PERGUNTAS - Modo de fazer

Entrevistar alguém não é simplesmente sair perguntando o que vier na cabeça. As perguntas são uma das principais ferramentas de trabalho de um repórter e devem ser bem formuladas para extrair uma boa resposta do entrevistado. Algumas técnicas ajudam na elaboração de boas questões e evitar que o entrevistador seja desacreditado diante do entrevistado ou de seu público.

Imagem: Pixabay

Tipos de perguntas

Existem perguntas que dão a possibilidade do entrevistado elaborar, pensar e dar uma resposta melhor, embasada na opinião dele ou na descrição de um fato. É o caso das perguntas abertas.
Exemplo: "Qual sua opinião sobre a maioridade penal ser reduzida para 16 anos?"

Além de pedir uma análise ou opinião de um caso ao entrevistado, outra forma de fazer perguntas abertas é usar no início das questões "Quais", "De que forma", "Como", "Por que" etc.

O contrário disso são as perguntas fechadas, que podem fazer o entrevistado limitar a resposta em "sim", "não" ou pouquíssimas palavras.
Exemplo: "As investigações apontam que o copiloto tinha problemas psicológicos?"

Perguntas longas podem fazer o entrevistado se perder na tentativa de enterder o que você quer com essa questão. Se preciso for, contextualize, mas sem alogar-se demais. Pense nas réplicas e tréplicas dos candidados nos debates políticos. Elas têm perguntas mínimas, mas argumentações gigantes que mais parecem uma "palestra". É bom evitar isso.

Perguntas abrangentes podem dar margem ao entrevistado escolher o foco da resposta e falar sobre o que mais o agrada.
Exemplo: "Qual sua opinião sobre a vida?" - aqui, o entrevistado pode preferir falar da vida profissional, vida social, vida familiar ou filosofar sobre a existência do ser humano na Terra. Nesse caso só resta aceitar a declaração que vier. É preciso ser objetivo na pergunta. Quanto mais específico for, mais direto ao ponto será a resposta.

Perguntas complexas devem ser evitadas, já que o trabalho do repórter é esclarecer os assuntos e não os complicar ainda mais. Usar termos técnicos, jargões que só dizem respeito àquela profissão (como advogado, médicos ou cientistas) pode confundir quem não entende do que se fala. Pedir pro entrevistado evitar esses termos ou explicá-los em uma linguagem coloquial ajudam. Tenha pra si que se você não compreende o que está sendo perguntado ou do próprio assunto, melhor entender mais sobre o tema e reformular a pergunta.

Normalmente, as perguntas devem ser precisas, objetivas, curtas e claras.

Roteiro de perguntas

Antes de começar uma entrevista é indicado planejar antes as perguntas. Faça um roteiro com as questões que serão feitas no momento em que estiver frente a frente com o entrevistado. Esse planejamento também garante a fluidez da conversa . Para isso, faça uma boa pesquisa do assunto a ser tratado e, se for necessário,  também do entrevistado. Muitas vezes saber quem realmente é o dono das respostas pode ajudar na elaboração de perguntas estratégicas.

Evite desperdiçar perguntas com indagações básicas. Ao invés de perguntar quantos títulos ou medalhas um atleta tem, busque essa resposta na sua pesquisa e faça uma indagação melhor. Isso evita que o entrevistado pense que você veio para a entrevista despreparado ou mal sabe quem é ele. O indicado é fazer perguntas que estimulem a opinião, análise ou descrição do entrevistado.

Outra dica é começar o roteiro por perguntas referentes ao foco do tema. Se for entrevistar um político sobre a inauguração de um viaduto, por exemplo, prefira fazer primeiro perguntas da obra em si, depois passe pra outras perguntas pertinentes a outros assuntos de interesse público e por último a questões mais "pesadas" ou delicadas. Como em um jogo de xadrez, uma indagação pode deixar o entrevistado em xeque-mate e se ele se sentir contra a parede pode até encerrar a entrevista. Para que o repórter não fique sem nenhuma resposta, deixe aquela pergunta "provocativa" para o final.

O roteiro de perguntas formulado antes não precisa ser obrigatoriamente seguido. Se momentos antes da entrevista se descobre algo ainda mais interessante do que foi planejado é recomendado formular perguntas na hora. Isso acontece muito com base nas respostas do entrevistado. Se ele disse algo que estimule uma pergunta exclarecedora ou reveladora, a próxima questão do roteiro pode esperar ou até mesmo "cair".

Perguntar não ofende

As perguntas podem vir carregadas de segundas intenções. Questões tendenciosas podem constranger, irritar e até mesmo criar um clima desagradável entre quem pergunta e quem responde. Se o objetivo nunca foi ser "amigo" do entrevistado, siga em frente sabendo dos riscos em ganhar um novo "inimigo". Invadir a privacidade com perguntas maldosas pode resultar até mesmo em processos de difamação.

Já levar a público um assunto de interesse social, como a descoberta do envolvimento do entrevistado em um esquema de desvio de verbas públicas chega a ser um direito da sociedade à essa informação. Mas, antes de perguntar sobre assuntos assim certifique-se de que há provas legítimas e que elas estejam em seu poder.

T.M.

Comentários

José Resende disse…
Ótimas dicas, valeu!

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